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Audiência politicamente correta

Eduardo Perez
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Crônicas

Audiência politicamente correta

O que aconteceria se o "politicamente correto" invadisse de vez os tribunais?


Em 15 de fevereiro de 23 DL (Depois do Lacre), presentes as partes autora e ré à audiência. Abertura dos trabalhos com a tentativa de conciliação.


Juiz: Então, a senhora está movendo o processo por qual motivo?


Autora: Essa pessoa heteronormativa me chamou de vagabundx!


Juiz: Desculpa. Eu não entendi. Ele chamou a senhora de vagabunda?


Autora: Não! De vagabundx!


Juiz: De vagabundo…?


Autora: Já disse que ele me chamou de vagabundx!!! VAGABUNDX!!!


Réu: E eu já me desculpei publicamente para com as manas que sofrem o preconceito dessa sociedade monogâmica e misógina!


Autora: Mas não comigo!


Réu: Seu juiz, eu so disse isso porque essa pessoa caucasiana de identidade não binária me chamou de filhx de putx!


Juiz: Filho…? Ou Filha…?


Réu: Nunca, jamais! Seria pior ainda identificar o gênero! Ela me chamou foi de filhx!


Juiz: Perdão, mas da puta ou do puto?


Réu: Mas eu estou falando que língua? Doutor, ela me chamou de F-I-L-H-X D-X P-U-T-X!!


Autora: Pois eu também já me desculpei nas redes sociais com todxs xs profissionais da indústria do prazer oprimidos pela sociedade patriarcal cisgênera e machista!


Réu: E eu não mereço desculpas?


Juiz: Pelo que entendi, não é possível a conciliação. Assistente, chame a primeira testemunha.


Assistente se levanta, sai e volta, sozinho:


- Excelência, a testemunha, que pediu pra ser chamada de testemunhiquis, testeminx, não sei ao certo, disse que, como “guerreiriquis” social não se sente confortável em intervir no conflito, já que a culpa é do estado, e pergunta se tudo bem escrever um post de empoderamento no facebook.


Juiz suspira fundo. Cai o pano (da História).